Não é novidade alguma que o princípio feminino vem sendo excluído da vida interior de cada um de nós há muito tempo. Com isto, estamos todos carentes de uma verdadeira vinculação com o que é mais essencial, com a capacidade de nos relacionarmos a partir da alteridade que vem da alma, deste lugar onde nos nutrimos e, por isto mesmo, podemos também nutrir ao outro.
É lamentável constatar que este feminino tem estado ausente de nossas vidas e daquele espaço tão sagrado que existe entre cada pessoa e todos aqueles a quem esta pessoa está vinculada.
Igualmente trágico é perceber, ao longo destes vinte e um anos de jornada, que muitas, muitas mulheres mesmo, não têm contato algum com suas linhagens maternas. Parecem fantasmas famintos habitando corpos que não lhes pertencem, pois, para elas, o território do feminino ainda é um lugar estranho, quase alienígena. Totalmente desconectadas de sua própria linhagem, de seus ciclos e mistérios e, ainda, dissociadas de sua natureza visceral, buscam sua identidade num mundo corrompido, cujo sistema dominante impõe-lhe valores distorcidos e nega-lhes o que têm de mais verdadeiro e único.
Por isto, estamos lançando um novo projeto: a formação de lideranças de círculos femininos através da jornada da Tenda Vermelha.
Este projeto piloto vai ser desenvolvido de março de 2015 a março de 2016, sob a focalização de Lúcia D. Torres. Mulheres egressas das mais diversas gerações da Tenda da Lua, das várias cidades do sul do país, estarão participando deste curso que pretende capacitá-las a viabilizar esta proposta aos mais diversos públicos femininos, incluindo, também, a possibilidade de estes círculos serem levados gratuitamente a comunidades da periferia, associações de bairro e outras populações de baixa renda.
Os círculos femininos Tenda Vermelha se destinam a qualquer mulher a partir dos 18 anos. Serão encontros quinzenais, de março a dezembro de cada ano, totalizando vinte encontros com uma carga horaria de 60 horas. A metodologia utilizada inclui momentos de partilha, rodas de cura, oficinas, conexão com o sagrado através da linguagem simbólica oracular, filmes e debates.
Igualmente, contempla aqueles temas que dizem respeito diretamente aos “mistérios de sangue” da mulher (menarca, maternidade, menopausa) relacionando-os não só à sabedoria ancestral feminina do conhecimento das benzedeiras e das ervas medicinais, por exemplo, mas, também, incluindo informações que possibilitem um questionamento sobre comportamentos e atitudes.
É mais uma oportunidade, para as mulheres deste movimento, de estar a serviço, honrando o compromisso de nos tornarmos agentes de cura e de transformação sociais e planetárias a partir do nosso aprendizado coletivo umas com as outras.
E de, também, tornar o universo feminino mais familiar a todos nós, principalmente às próprias mulheres que aprendem a ser mulheres com a própria Vida e entre mulheres.