11 out O que tem no seu prato, comida ou veneno?
Por Potira V. Preiss
No século passado, a modernização da agricultura se espalhou pelo mundo levando a promessa que através do uso de agroquímicos poderíamos produzir alimentos baratos e em quantidade, com isso acabar com a fome do mundo. No entanto, essa promessa não levava em consideração a qualidade dos alimentos ou tampouco a saúde dos trabalhadores e consumidores. Considerava, menos ainda, os impactos sociais e ambientais.
Porém, não demorou muito para que os efeitos colaterais desse modelo de produção viessem à tona. Ainda em 1962, quando a Revolução Verde recém chegava aos países do hemisfério sul, a bióloga Rachel Carson publicava o livro “Primavera Silenciosa” relatando os impactos dos agrotóxicos ao meio natural. Na época, a descoberta foi polêmica e altamente questionada. Hoje em dia, a quantidade de pesquisas e evidências já não nos permite negar o impacto nocivo dos agrotóxicos, seja para o meio ambiente, seja para a qualidade dos alimentos ou ainda para a saúde de quem planta ou consome.
A 6ª edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, lançada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que os produtos classificados como perigosos são os mais vendidos no país, ultrapassando a cifra de 64% (IBGE, 2015). No mesmo ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou documento no qual afirma que o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, tendo um consumo médio anual de 5,2 litros de veneno agrícola por habitante (BRASIL, 2015).
Outro estudo recente, lançado pelo Greenpeace (2017) analisa a presença de agrotóxicos em alimentos básicos como mamão formosa, tomate, couve, pimentão verde, banana, café e arroz. Os resultados são assustadores, 60% das amostram continham resíduos de agrotóxicos e 36% apresentavam algum tipo de irregularidade. A maioria dos alimentos revelaram resíduos de mais de um tipo de agrotóxico, podendo acarretar no que é conhecido como “efeito coquetel”: a mistura de diferentes substâncias químicas que levam a efeitos desconhecidos e dificultam o tratamento dos danos que provocam (GREENPEACE, 2017).
É importante considerar ainda que dos 23 diferentes agrotóxicos encontrados, um é proibido no Brasil e dez são proibidos na Europa e em países como Austrália, Canadá e Estados Unidos em que a legislação possui políticas com maior seguridade a saúde da população. Em outras palavras, temos um modelo de produção agrícola que gera um alimento literalmente envenenado! O resultado é uma epidemia crescente de doenças associadas à alimentação, de alergias alimentares aos mais variados tipos de câncer.
Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2018) mostram que temos produção de alimento suficiente para alimentar toda a população mundial, no entanto ainda temos 815 milhões de pessoas em estado de fome. O problema está, mais que tudo, no modelo de produção, que oferta um alimento sem qualidade, com um sistema de distribuição ineficiente e com altos índices de desperdício.
Alterar esse quadro envolve uma transição de modelo de produção e consumo e uma união dos diferentes segmentos das sociedades. O Estado deve promover políticas públicas que facilitem a produção agroecológica e orgânica e que garantam a qualidade a segurança dos alimentos ofertados a população. O setor privado deve se tornar mais responsável e adequar seus produtos.
Mas os consumidores também tem um papel importante! Devem buscar se manter informados e dispostos a repensar sua forma de se alimentar, tomando para si a responsabilidade de incentivar formas de produção ecológicas, seguras e saudáveis! Para isso, basta planejar melhor suas compras, sempre que possível dando preferência a compra direta de alimentos em Feiras ou grupos de consumo!
Desde 2012, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC mantém uma plataforma online de busca rápida que mapeia e cadastra feiras, grupos de consumo responsável e estabelecimento de comercio parceiros de orgânicos. Atualmente, são cerca de 858 iniciativas em todo país! Busque o espaço mais próximo de sua casa e experimente! Sua saúde será beneficiada, mas também a sociedade e o planeta.
Link para acessar o mapa Mapa de Feiras Orgânicas: https://feirasorganicas.org.br/